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Brasil, julho de 2024 - Em pouco menos de quatro anos de turbulência global, caíram por terra décadas de dogmas empresariais sobre como projetar e operar com sucesso uma cadeia de suprimentos. Após enfrentar a pandemia de Covid-19, a escassez global de semicondutores e a inflação, os executivos já avistam novos desafios, como questões trabalhistas, pressão por descarbonização e sustentabilidade nas operações, altas expectativas dos clientes e tecnologias transformadoras como a inteligência artificial (IA).
“A fórmula tradicional que conduzia as decisões da cadeia de suprimentos deixou de ser suficiente. Reduzir custos, controlar estoques, melhorar serviço e qualidade e impulsionar o crescimento continuam a ser prioridades fundamentais. Só que agora as cadeias de suprimentos também precisam se tornar mais resilientes, sustentáveis e altamente responsivas às expectativas dos clientes, que são cada vez mais altas”, explica Wagner Costa, sócio da consultoria estratégica Bain & Company.
Reinventar cadeias de suprimentos para a nova ordem mundial claramente requer mudanças mais complexas do que a maioria das equipes operacionais já encarou, dentro e fora da companhia. Por isso, essas operações não dependem apenas de execução excepcional e melhoria contínua ‒ ter a estratégia certa é ainda mais crucial. Segundo o executivo, quatro recursos podem ajudar o C-Level a promover essa transição:
1) Flexibilidade integrada: em um mundo em turbulência quase constante, a capacidade de recuperação e adaptabilidade são ainda mais essenciais. Contudo, a resiliência operacional é muito importante, exigindo que as empresas desenvolvam habilidades de monitoramento e recuperação, além de um design flexível.
2) Split-shoring: um equilíbrio entre fabricação offshore e produção mais próxima dos clientes e fornecedores. De acordo com pesquisa da Bain realizada com quase 300 executivos, mais da metade das empresas planeja aumentar sua relocação de cadeia de suprimentos entre 2023 e 2025. A oferta de hubs de fabricação offshore de baixo custo mudou com a instabilidade geopolítica e redes mais próximas podem entregar produtos com rapidez, confiabilidade e menor pegada de carbono.
3) Visibilidade sistêmica: proporcionada por maior disponibilidade de dados, provenientes de ferramentas digitais e relacionamentos com fornecedores e parceiros. Em particular, a rastreabilidade digital tem o potencial de se tornar o maior habilitador das cadeias de suprimentos do futuro. Alimentar esses dados em modelos de software avançados e tecnologias de IA pode trazer benefícios como detecção e resposta mais ágil a riscos e interrupções, adaptação às necessidades dos clientes, personalização, tomada de decisões seguras, bem como rastreamento e busca por melhores resultados de sustentabilidade.
4) Avanços na circularidade: a descarbonização é uma grande preocupação das empresas, mas a extração de recursos e o desperdício de materiais podem levar à escassez. Por isso, as companhias de ponta investem em cadeias menos lineares, implementando modelos que reciclam, remanufaturam, reparam e reutilizam materiais e equipamentos. Pesquisa da Bain com quase 400 das maiores empresas dos Estados Unidos descobriu que 60% já tinham compromissos formais com a circularidade até setembro de 2023.
Para implementar esses recursos, existem quatro etapas-chave que podem ajudar a promover tomadas de decisão mais integradas e interfuncionais guiadas por uma compreensão unificada de como diferenciar suas cadeias de suprimentos:
- Criar uma visão holística para redesenhar todo o sistema com um plano claro fundamentado na estratégia da empresa ‒ o que pode incluir uma redefinição completa das cadeias de suprimentos. Começar do zero com uma abordagem irrestrita pode ajudar as empresas a se libertarem de padrões antigos para encontrar soluções criativas.
- Estabelecer uma equipe interfuncional para encontrar soluções sistêmicas ‒ é impossível superar o escopo e a natureza dos desafios atuais do setor sem o trabalho conjunto de diferentes cargos e departamentos. Como a melhor maneira de resolver um desafio dessa magnitude é dividi-lo em partes menores e mais gerenciáveis, implementar microbatalhas pode ser a solução. Cada microcosmo do problema geral é atribuído a um pequeno grupo, que trabalha para trazer rapidamente escolhas estratégicas para a ação e formular maneiras de escalar os resultados.
- Desenvolver habilidades da equipe de operações em estratégia e colaboração interdisciplinar. As prioridades da cadeia de suprimentos dos últimos 30 anos mudaram e hoje as empresas devem se adaptar constantemente à turbulência persistente. Desse modo, o perfil de talento das equipes de operações deve mudar também. Não basta apenas a execução eficiente e tática. As empresas devem buscar capacidades estratégicas, como design de sistemas e modelagem de cenários, além da colaboração interdisciplinar.
- Trabalhar em conjunto com fornecedores, clientes e outros parceiros. Transformar a cadeia de suprimentos vai exigir mais capacidades do que a maioria das empresas possui. Formar parcerias pode aliviar parte do ônus de seus novos trade-offs, proporcionando mais liberdade para resolvê-los. Conforme a pesquisa da Bain, cerca de 66% dos executivos disseram que planejavam aumentar o número de parcerias com fornecedores para apoiar o crescimento e a diversificação da cadeia de suprimentos ao longo dos próximos três anos.
Além de aprimorar os relacionamentos existentes, as organizações podem precisar buscar parceiros fora de suas cadeias diretas. Para muitos negócios, isso deve incluir um trabalho mais próximo com reguladores para moldar proativamente políticas, uma vez que os governos ao redor do mundo priorizam cada vez mais a fabricação doméstica, a resiliência da cadeia de suprimentos e os padrões de sustentabilidade.
Ancorar as ações em uma estratégia bem definida para diferenciar sua cadeia de suprimentos pode parecer um tanto contraditório e muda a forma como as empresas têm feito negócios nos últimos 30 anos ou mais. Por outro lado, essas iniciativas aumentam as chances de sucesso e ganhos de participação de mercado, ajudando a gerenciar os trade-offs concorrentes em cada passo da jornada de reinvenção da sua cadeia de suprimentos.