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O transporte aéreo de passageiros no mercado doméstico brasileiro já é o quarto maior do mundo, atrás apenas do americano, do chinês e do japonês. Até o fim do ano, 79 milhões de passageiros terão embarcado em vôos internos. Os vôos internacionais vêm aumentando, principalmente na rota Brasil-Estados Unidos, na qual o movimento cresceu quase 50% nos últimos cinco anos. É nesse contexto que se insere o acordo revelado na última semana entre a Gol e a americana Delta, a maior companhia aérea do mundo. A americana investirá 100 milhões de dólares na brasileira. Em troca, terá uma participação de 3% no capital acionário da Gol. A participação de capital externo nas empresas aéreas brasileiras não pode superar 20% restrição semelhante à existente no mercado americano, cujo limite de capital estrangeiro é de 25%. O principal objetivo da Delta é voar em rotas compartilhadas com a Gol e assim ampliar a sua presença nos céus brasileiros. Hoje, a Delta fica atrás da American, da TAM e da United Continental em número de passageiros transportados entre o Brasil e os Estados Unidos.
A parceria abre aos americanos a oportunidade de driblar certas restrições a investidores estrangeiros no Brasil. Empresas internacionais não podem operar vôos locais. Acordos como o da Gol com a Delta, assim como a fusão da TAM com a chilena LAN. anunciada há um ano e ainda sob análise das autoridades regulatórias, simbolizam os rumos do setor aéreo. Essas parcerias são feitas para contornar os limites impostos a empresas estrangeiras e para ampliar a capilaridade de rotas disponíveis. Outra estratégia é participar de uma das três grandes alianças globais: Star Alliance. SkyTeam e Oneworld. As companhias a elas associadas respondem hoje por 857c dos vôos entre os Estados Unidos e a Europa Ganhar escala e acesso a mercados é imprescindível para sobreviver. 'Toda empresa aérea hoje precisa de alianças. Há um número crescente de passageiros, mas não dá para uma empresa voar para todos os destinos", disse a VEJA Leonardo Pereira, vice-presidente financeiro da Gol. Esse é um setor em que, sem eficiência, não se vai longe. O aumento da demanda não é garantia de sobrevivência, dado o peso das despesas operacionais. O combustível de aviação, por exemplo, ficou mais caro na esteira da escalada do petróleo e tornou-se o principal custo de um voo. As companhias trabalham com margens de lucro apertadas. Apertadas mesmo. Foi de apenas 0,03% a média de lucro anual das grandes nos Estados Unidos, desde que entrou em vigor a desregulamentação do setor aéreo, no governo Ronald Reagan, há trinta anos. Nesse mesmo período, o custo médio dos bilhetes aéreos caiu 50%. Muitas empresas tradicionais e históricas sumiram do mapa-caso clássico da Pan Am -, e até hoje as concordatas têm sido comuns, como a decretada recentemente pela American Airlines.
Com a entrada da Delta a Gol receberá um reforço de caixa. Em termos estratégicos, a companhia brasileira que não voa atualmente para os Estados Unidos nem para a Europa, também poderá se beneficiar com a opção natural dos passageiros internacionais da Delta em seus deslocamentos pelo Brasil. O acordo será especialmente vantajoso durante a Copa do Mundo e a Olimpíada. Diz André Castellini, da consultoria Bain & Company: "Viagens de longa distância são complexas e demandam investimentos colossais. A concorrência é maior e se dá com empresas já estabelecidas". A competição ficará mais acirrada a partir de 2015, quando entrará em vigor o acordo de "céus abertos" firmado pelo governo brasileiro com o americano, que acaba com a limitação de viagens entre os países. Hoje o teto é de 182 vôos semanais. Para o consumidor, a parceria entre Gol e Delta prevista para entrar em vigor no fim de 2012. é boa notícia pois os programas de milhas serão integrados.
Falta o governo fazer a parte dele. Diz Marcelo Guaranys. presidente da Anac. a agência que regula o setor aéreo no Brasil: "Precisamos expandir a infraestrutura para que as companhias com menor participação se consolidem, disputando rotas e horários mais rentáveis, acirrando a competição". É o que os passageiros esperam.