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Brasil, 14 de dezembro de 2022 - Como responsáveis pelo financiamento de projetos e empresas de praticamente toda a cadeia produtiva e de serviços, os bancos são peças essenciais para a redução da pegada de carbono no mundo. Para entender os cenários, riscos e oportunidades desse setor no Brasil, a Bain & Company realizou uma série de estudos sobre como os bancos brasileiros estão se posicionando frente às iniciativas de ESG e, especialmente, como as práticas das demais empresas têm influenciado as decisões das instituições financeiras ao definir seus portfólios de investimento, conceder empréstimos e financiar projetos de sustentabilidade.
Com base nestes e outros estudos globais da consultoria, foi possível comparar a evolução das metas para o mercado brasileiro com os demais países, levantar as principais tendências tecnológicas e os riscos de cada setor quanto à transição de carbono, bem como esboçar cenários futuros para o mercado brasileiro.
Consumidores esperam investimento em sustentabilidade
O crescimento das iniciativas para descarbonização é sustentado pela tríade: pressão dos consumidores, regulatório e a busca por resultados financeiros em longo prazo. A Bain tem identificado indícios de que o NPS é positivamente afetado quando os bancos integram ações de responsabilidade social e ambiental e, no Brasil, um estudo recente da Febraban indica que 92% dos entrevistados consideram que as práticas de ESG das empresas interferem em sua opinião sobre as marcas e que 77% gostariam que a legislação fosse mais rígida quanto à sustentabilidade. Porém, entre os entrevistados, apenas 17% mencionam os bancos dentre as empresas que mais adotaram tais práticas.
Em sua pesquisa, a Bain revela que os principais bancos brasileiros apresentam metas para descarbonização e, entre as 39 instituições financeiras de seis continentes que fazem parte da Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima da ONU, quatro são bancos brasileiros. No entanto, instituições financeiras brasileiras ainda têm o desafio de divulgar o planejamento para alcançar seus objetivos de descarbonização nem divide seus planos por setor, o que seria imprescindível para definir as melhores estratégias para cada segmento.
Bain lista seis alavancas para que bancos atinjam suas metas net-zero
Como o objetivo das instituições financeiras deve ser o apoio à descarbonização da economia real, o corte de recursos a uma empresa ou setor pode tornar ainda mais difícil a redução de emissões. O desinvestimento acaba por diminuir as chances de descarbonização e, adicionalmente, pode gerar riscos sociais e financeiros. Por outro lado, a Bain indica seis importantes alavancas para alcançar o net-zero:
Análise de negócios e segmentos: alterar a alocação de investimento priorizando negócios e segmentos de baixas emissões.
Seleção de clientes dentro do modelo de negócios: medir o impacto das emissões dos clientes para determinar investimentos “verdes” versus “marrons” e ajustar os clientes ao longo do tempo para reduzir o impacto das emissões.
Escolha do modelo de negócios dentro do segmento: alterar o modelo de negócios para limitar as exposições a negócios ou segmentos de altas emissões como conformidade com padrões e medidas.
Influenciar o comportamento do cliente: implementar políticas, incentivos e práticas para envolver os clientes e direcioná-los para um comportamento de emissões mais baixas nos negócios existentes.
Novos negócios e produtos inovadores: investir em novos negócios ou produtos que reduzam a pegada de carbono dos clientes.
Compensações de carbono: adquirir compensações de carbono deve ser deixada como última alternativa para contabilizar as emissões residuais que não podem ser reduzidas por meio de outras alavancas.
Globalmente, a consultoria identificou que, em um cenário favorável a uma mudança para a economia de baixo carbono, é possível que a lucratividade anual dos bancos cresça até 30% até 2050 para aqueles que tomarem a liderança nessa transição.
Principais setores para descarbonização no Brasil
No Brasil, o volume de emissões brutas (sem considerar absorção de carbono) de escopo 1 e 2 do agronegócio em 2020 alcançou quase 1,6 bilhão de toneladas, seguido pelos transportes, com 185 milhões de toneladas. Além desses setores, são relevantes também as emissões na área de óleo e gás, metalurgia e construção civil. Ao compará-las, a Bain mostra que alguns setores conseguiram avanços relevantes e têm melhores chances de chegar ao net-zero em 2050, como o segmento de geração de energia.
Em contrapartida, áreas como transportes e construção civil exigem ainda grandes investimentos, novas tecnologias e regulamentação. O setor de agronegócio tem observado um bom engajamento dos grandes produtores em práticas ESG, bem como a introdução de novas tecnologias e planos setoriais (Plano ABC) que favorecem a implementação dessas iniciativas. No entanto, devido à fragmentação do setor e da escassez de metodologias específicas de produção, ainda há muito a ser desenvolvido, com uma demanda significativa por investimento nesta área.
O estudo da Bain levantou as especificidades da legislação vigente e os maiores desafios de infraestrutura para esses cinco setores principais. Desse modo, foi possível identificar quais ações são prioritárias para a evolução em cada segmento, as particularidades que devem ser observadas pelas instituições financeiras, bem como as maiores oportunidades para os bancos brasileiros quando pensam em se comprometer com o net-zero.
Regulatório
No que diz respeito à legislação, alguns países já definiram metas por setores e agora discutem a atuação das instituições financeiras na busca pelo net-zero, como a Inglaterra, onde está prevista a redução de 68% das emissões até 2030. Lá foi criado um órgão independente para acompanhar as emissões, reportar os avanços ao parlamento britânico e preparar o país para os impactos das alterações climáticas.
O Brasil parece estar seguindo uma jornada semelhante à da Europa e hoje está entre os nove países que já começaram a definir uma divulgação climática obrigatória para que as instituições financeiras abram caminho para a regulação net-zero. A discussão sobre práticas ESG para esse setor se intensificou em 2022, com a programação de um teste de estresse climático por parte do Banco Central do Brasil, a ser realizado ainda neste ano. Apesar de bem vista, a iniciativa ainda depende que o BC defina os requisitos e princípios de ESG para o mercado. Portanto, ainda não estão claras as implicações do teste para as instituições financeiras, que terão de pensar suas estratégias para emissões financiadas.
Com a legislação mais adiantada, os bancos terão a oportunidade de moldar a agenda ESG das companhias, seja no suporte à descarbonização de seus clientes, na alavancagem de do mercado de créditos de carbono ou no desenvolvimento de produtos alternativos, conectados à sustentabilidade. Quem entrar antes nessa corrida terá a chance de realizar os melhores acordos e sedimentar as parcerias mais estratégicas, além de alcançar mais rapidamente um profundo conhecimento do setor e aumentar a lucratividade.
Sobre a Bain & Company
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