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Brasil, abril de 2024 - A retração no mercado de private equity nos últimos dois anos não tem precedentes. Valores e volume de transações caíram respectivamente 60% e 35%, a partir dos picos de negócios ocorridos 2021. O valor de saída diminuiu 66%, e o número de fundos encerrados declinou quase 55%. Nesse período, as taxas de juros subiram em uma velocidade sem paralelos desde a década de 1980 e persiste a preocupação sobre o que chamamos de "a recessão mais antecipada da história que ainda não aconteceu", mesmo com sinais de que a maior parte das economias globais deve enfrentar um pouso suave.
Esses sinais paralisaram o private equity. Os múltiplos de preço, que tendem a se mover inversamente às taxas de juros, caíram ligeiramente no último ano. Isso ocorre porque os vendedores estão trazendo para o mercado apenas os ativos de mais alta qualidade, aqueles em que têm a confiança de que serão vendidos com um retorno razoável. Já os canais de saída secaram em sua maioria, deixando os gestores com incríveis $3,2 trilhões em ativos não vendidos.
Essas quedas na atividade tiveram um efeito inibidor na captação de recursos. As distribuições mais lentas deixaram os investidores com fluxo de caixa negativo, prejudicando sua capacidade de reinvestir em private equity. O setor ainda levantou US$1,2 trilhão em novo capital em 2023, e a categoria de aquisições atraiu US$448 bilhões. Mas os investidores foram altamente seletivos, com foco nos maiores e mais confiáveis fundos de aquisição, enquanto a captação de recursos foi extremamente desafiadora para os demais.
Os índices de cobertura de juros entre as empresas do portfólio apoiadas por aquisições nos Estados Unidos caíram para 2,4 vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA) – o menor nível desde 2007. Isso está pressionando os gestores a encontrar soluções de liquidez e criar novas maneiras de gerar lucros por meio de alavancagem operacional – não apenas a expansão de múltiplos e o crescimento da receita com os quais o mercado vinha contando há anos.
Em complemento, a queda de investimentos que começou no segundo semestre de 2022 se estendeu até 2023. Excluindo as aquisições adicionais, o valor dos investimentos em aquisições caiu para US$ 438 bilhões, uma redução de 37% em relação a 2022 e o pior total desde 2016. O volume total de negociações baixou para cerca de 2.500 transações (20%). Todos os tipos de transações sentiram o impacto, mas aquelas que dependiam de financiamento bancário sofreram mais. Quando os rendimentos dos empréstimos de grande porte se aproximaram de 11% nos EUA e 9% na Europa (ambos em máximas de 10 anos), os bancos recuaram e a emissão de novos empréstimos despencou.
Um novo horizonte
O principal motor para uma mudança de cenário é a redução das taxas de juros, algo que se mostra provável para o próximo ano. Com uma perspectiva macroeconômica relativamente estável, até mesmo pequenos cortes podem estimular transações. “É um recorde de US$1,2 trilhão em caixa e 26% desse montante já alcançou quatro anos ou mais de investimento. Isso cria um incentivo mais forte do que o normal para que os gestores comecem a comprar, mesmo que as condições não sejam ideais. A atividade já está aumentando e a tendência em 2024 é provavelmente de alta quando se trata de volume e valor dos negócios”, explica Gustavo Camargo, sócio e líder da prática de Private Equity da Bain na América do Sul.
Apesar do panorama atual, a única certeza é que esperar passivamente que as condições melhorem não é uma estratégia viável. É crítico gerar alavancagem operacional em um mercado no qual os ventos favoráveis da expansão de múltiplos se transformaram em ventos contrários. É impossível controlar a direção das taxas de juros, porém é factível melhorar na avaliação de valor. As condições de mercado difíceis devem destacar as empresas do portfólio que utilizaram todos os meios possíveis para impulsionar o EBITDA de forma eficiente.
Isso significa que os fundos precisam se tornar mais habilidosos em encontrar e acionar alavancas de criação de valor que gerem crescimento orgânico – como precificação, eficácia da equipe de vendas e inovação de produtos. Se essas perspectivas não faziam parte do plano original de criação de valor, agora é o momento de focar nelas. As empresas que estão sendo negociadas não são aquelas que simplesmente cresceram ou se tornaram mais enxutas. O diferencial está em gerar uma expansão orgânica forte, lucrativa e sustentável.
Contudo, as estratégias focadas no crescimento do EBITDA levam tempo e um crescente atraso nas saídas também apresenta preocupações mais imediatas. Dessa forma, os fundos precisam desenvolver uma avaliação clara e pragmática sobre em qual estágio cada empresa do portfólio está em termos de perfil de retorno, estrutura de capital e perspectivas futuras. Uma varredura eficaz da carteira deve levar a um plano claro e prático para guiar o fundo por este período tão complexo.
Nesse sentido, os fundos mais proativos já começaram a mudar a forma de abordagem aos investidores, profissionalizando processos e aprimorando suas capacidades de mercado. As empresas que conseguem levantar mais capital são aquelas que mapearam estrategicamente quem devem ser seus investidores e desenvolveram capacidades e ferramentas para expandir a participação de mercado.
Ao impulsionar o desempenho estável exigido pelos investidores por meio de estratégias de criação de valor que aumentem a alavancagem operacional, ampliando não apenas a receita, como também as margens de lucro, os gestores terão mais chances de fazer melhores negócios.