Article
Competências são elementos fundamentais no mundo corporativo. Para uma empresa, uma competência é a habilidade de concluir atividades altamente específicas e possíveis de serem replicadas. Algumas organizações de sucesso conseguem identificar e desenvolver as competências necessárias para atingir seus objetivos estratégicos e com isso ampliar a sua vantagem competitiva ou até mesmo renovar sua estratégia.
Um típico negócio é composto por 80 a 200 diferentes competências, das quais apenas 5 a 10 podem ser realmente consideradas críticas. Ao combiná-las de diferentes formas, as empresas conseguem criar novas fontes de crescimento rentável. O Google, por exemplo, buscou ampliar as competências de seu core business por meio de aquisição de outras empresas. A compra do YouTube pelo valor de US$ 1,65 bilhão em 2006 foi o principal exemplo desse processo. Em 2007, a Google adquiriu inúmeras empresas, desde servidores de videoconferência até empresas de propaganda on-line. Muitas dessas aquisições trouxeram - além de sua atividade principal - competências únicas a serem usadas pela Google para viabilizar sua estratégia de crescimento.
Se todas as novas plataformas trarão resultado econômico para a Google ainda vamos descobrir. No entanto, muitos administradores estão cada vez mais cientes do impacto econômico dos talentos internos. Em uma pesquisa recente da Bain & Company, 98% dos executivos globais responderam que criar novas competências é importante ou extremamente importante para alcançar suas metas de crescimento. Em nossos estudos de casos mais recentes para entender como as empresas de sucesso definem suas estratégias, para dois terços das empresas de sucesso a aquisição de novas competências foi identificada como um fator-chave para viabilizar ou redefinir sua estratégia.
Por ser um tema complexo e pouco tangível, a gestão de competências é um assunto ainda pouco discutido nas empresas. Apesar de sua importância, muitas empresas negligenciam o conhecimento existente em seus diferentes recursos e processos. Afinal é muito mais difícil ver, sentir e tocar em competências do que em uma base de dados de clientes, em uma unidade de negócios ou em uma linha de produtos. Entretanto, a adição de novas competências tem ajudado as organizações a ampliar o poder de seu negócio principal, rejuvenescer seu modelo de crescimento e atuar em áreas previamente inatingíveis. Para atingir a liderança no segmento farmacêutico, o Laboratório Aché comprou a também brasileira Biosintética Farmacêutica. Com esta aquisição a Aché passou a atuar em todas as áreas terapêuticas, inclusive no segmento de genéricos. A Biosintética tem ampla tradição em pesquisa e desenvolvimento de medicamentos no Brasil e proporcionou expansão e complementaridade no portfólio da Aché.
Para alguns negócios, a habilidade de adicionar novas competências pode se tornar a própria estratégia da empresa ou a principal fonte de melhoria no seu posicionamento de mercado. A organização gasta tempo suficiente avaliando as competências já existentes? Quais são as diferenciações mais críticas? O que mais precisa ser adicionado? Algumas empresas têm se esforçado para responder a essas perguntas.
Em 2008, a Monsanto, por exemplo, adquiriu dois centros de P&D pertencentes ao Grupo Votorantim. A compra das empresas CanaVialis e Alellyx pelo valor de US$ 290 milhões (R$ 616 milhões) tem como objetivo viabilizar uma participação relevante da Monsanto no promissor mercado de cana-de-açúcar, ampliando seu core atual nos mercados de soja, milho e algodão. Como o investimento é de longo prazo, a Monsanto não espera resultados imediatos. A aquisição das novas competências - melhoramento genético (CanaVialis) e biotecnologia (Alellyx) em cana-de-açúcar - é parte do investimento anual da multinacional de US$ 800 milhões por ano em pesquisa e desenvolvimento em todo o mundo.
Quando as empresas buscam nas competências uma alavanca de crescimento e ampliação na sua vantagem competitiva, elas devem se lembrar: é importante se concentrar no que é simples e gera grande impacto. O melhor é olharem para dentro de casa e descobrirem se têm as respostas para as seguintes perguntas: "Em o que nós somos melhores? O que nós temos feito de melhor no passado e por quê? O que deveríamos fazer no futuro para manter e ampliar nossos diferenciais competitivos?". E então ver onde essas respostas as levarão.
Colaborou Natália Abreu
kicker: Para dois terços das empresas de sucesso, novas competências são um fator-chave
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 3) JEAN-CLAUDE RAMIREZ* (Sócio da Bain & Company. Próximo artigo da equipe em 11 de fevereiro ) Colaborou Natália Abreu