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É conhecido o cenário que aponta um crescimento ainda forte da população mundial até 2050 e a necessidade de um incremento também expressivo da oferta de alimentos para suprir essa demanda adicional, com destaque para o fortalecimento do peso do Brasil entre os países exportadores de matérias primas agropecuárias e produtos processados e industrializados.
Nesse contexto, estudo recém concluído pela consultoria americana Bain & Company traz cálculos e projeções que corroboram essa tendência geral, com foco em cinco importantes commodities agrícolas (soja, açúcar, trigo, arroz e milho) que expõem o tamanho do desafio e em quais frentes o avanço brasileiro como fornecedor deve ser mais significativo. Na equação da empresa, o país encabeça um grupo formado também por Argentina e Paraguai.
E a principal conclusão do trabalho, liderado por Fernando Martins, sócio do escritório de São Paulo da Bain, e Luís Renato Oliveira, principal analista do setor de agronegócios na base brasileira da consultoria, é que a fatia do trio do Mercosul na produção global das cinco commodities crescerá quatro pontos percentuais nas próximas décadas. Em 2010, os três países produziram 319 milhões de toneladas de soja, açúcar, trigo, arroz e milho. Representaram 13% de um total mundial calculado em 2,4 bilhões de toneladas.Até 2050, prevê a Bain, estarão produzindo 581 milhões de toneladas, 262 milhões mais que em 2010 e quase 17% de um bolo global estimado em 3,5 bilhões de toneladas.
Esse crescimento do volume total é resultado do previsto crescimento da população em si-de 6,8 bilhões de pessoas para 8,9 bilhões em 2050, segundo a FAO, braço das Nações Unidas para agricultura e alimentação e das projeções da própria Bain & Company para o aumento do consumo per capita das cinco commodities (ver gráficos), em linha com o esperado crescimento econômico de países emergentes e de nações pobres, notadamente africanas. Em 2010 eram 352 quilos por habitante ao ano; em 2050, poderão ser 392.
O epicentro da força sul-americana é a soja, carro-chefe do setor de agronegócios dos três países destacados pela consultoria. No grupo, a oleaginosa já representou 46% do volume consolidado de produção das cinco commodities na safra 2008/09; em segundo lugar nesse ranking, o milho abocanhou 29% do total. E em 2008/09 a colheita conjunta de 94,7 milhões de toneladas dos países do Mercosul respondeu por 43% da produção mundial.
A análise respeita uma tendência que vem ganhando fôlego nos últimos anos e projeta que a especialização do Mercosul em soja se tornará ainda mais relevante no tabuleiro global, desde que gargalos estruturais a deficiente logística brasileira, por exemplo sejam resolvidos. Até 2050, o bloco puxará o previsto avanço de 74% da produção mundial da oleaginosa. Também deverá liderar a alta da produção total de açúcar, estimada em 69% no período. A América do Norte (EUA e Canada), por sua vez, responderá pela maior parte da alta de 47% projetada para a produção de milho. Um retrato de um movimento já em marcha. O estudo também dá cores às expansões que deverão acontecer. No caso do trio do Mercosul, por exemplo, a Bain acredita que a principal alavanca para o aumento da produção das cinco commodities será a expansão da ãrea conjunta, prevista em 49% até 2050. Nesse horizonte, a produtividade média desses produtos em Brasil, Argentina e Paraguai devera subir 22%. Daí o forte interesse de grandes investidores multinacionais em terras agricultáveis na região e as restrições a investimentos estrangeiros na aquisição de terras jã adotadas ou em avaliação pelos respectivos governos nacionais.
Nos EUA e no Canada, a produtividade média dos cinco produtos deverá aumentar 40% até 2050, com uma ampliação de ãrea plantada prevista em 4%. Na União Européia, a produtividade devera crescer 27%, e a área plantada devera cair 6%. Para China e índia, os outros emergentes destacados pela Bain & Company, haverá saltos de produtividade - 31% e 30%, respectivamente. Para a índia, a consultoria prevê expansão de 14% na ãrea conjunta cultivada, mas para a China, que lidera as importações mundiais de soja, há previsão de queda de 4% nesta frente.