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Quanto vale um homem de terno bem cortado
Um homem de terno bem cortado, tranqüilo em seu papel, e que carrega seus pertences numa bolsa com alça enviesada. Esse ser existe num mundo descamisado pela crise Parece que sim. Pelo menos os grandes grupos de luxo estão no seu encalço. Pela primeira vez desde a sua criação, em 1945, a Brioni, grife de alfaiataria masculina que agora integra o conglomerado PPR, tem um diretor de criação, Branclan Mullane. Do outro lado, Bernard Arnault, o poderoso comandante da LVMH, colocou seu filho Antoine à frente da expansão da grife Berluti, que originalmente fazia sapatos primorosos e neste ano ganhou a segunda coleção de prêt-à-porter. O grupo francês também comprou há um mês a butique francesa Arnys, um endereço tradicional do "sob medida", na rue de Sèvres, em Paris.
Em 2005, o jornalista Mark Simpson, criador do termo "metrossexual", disse a revista "Estampa", publicação do Valor, que o "novo homem" salvou a economia global. A indústria e os marqueteiros exploravam loucamente o metrossexual, seu consumidor mais reluzente, num momento em que o hedonismo estava em seu estado mais brutal. Mas agora, quando jovens na Europa nem conseguem ingressar no mercado de trabalho e manter um posto se tornou um exercício de redução salarial, por que os homens estão em foco estaria a indústria em busca de um salvador.
A Ásia e os países emergentes contribuíram para esta movimentação em torno do público masculino, claro. A tal ponto que, pelo levantamento do setor de luxo de 2011 da Bain & Co, o crescimento junto aos moços (14%) seria quase o dobro do das mulheres (8%). Dá para entender porque a Ermenegildo Zegna tem hoje perto da metade de seu resultado comprometido com a China. Ou porque a Gucci vá abrir no Brasil sua primeira loja exclusivamente masculina das Américas, no shoppingJK, em São Paulo.
Mas, vamos lá, o metrossexual, o símbolo do homem vaidoso que foi descoberto pelo mercado e que "salvou a economia global" está agindo nas sombras Os trogloditas latinos ou machistas chineses têm uma porção deles trancados no porão com cartões de crédito ativos "Ele se diluiu no mercado como um comportamento. O homem descobriu que dá para ser vaidoso e manter a masculinidade. E é com essa tranqüilidade que ele se manifesta no consumo", diz o sociólogo Dario Caldas, do escritório de tendências Observatório de Sinais. A bandeira do metrossexual fazia sentido quando o homem vivia uma crise de identidade dos gêneros. Num primeiro momento se falava até em feminilização ou da forma que os homens passariam a consumir como as mulheres. Efetivamente eles compram mais, mas num outro caminho.
Os homens não estão limitando as suas compras às "tradicionais" categorias masculinas. É o que a trendwatching empresa de tendências que abriu escritório no país e realiza em agosto um seminário em São Paulo chama de mansumers (man+consumers). Marcas estão reexaminando os homens, estudando sua rotina para expandir além do universo esportes, carros, bebidas. "Tudo e qualquer coisa pode ter apelo para o consumidor masculino. Então, nascem novos produtos/ serviços/experiências como as 'aulas de yoga para homens'", diz o estudo da trendwatching.
A pesquisa da Bain & Co mostra que o consumidor masculino de luxo está comprando mais produtos de beleza, perfumes, roupas. O mais significativo é que estaria fazendo isso para além da necessidade, ou reposição, mas como uma forma de presentear-se. O termo que algumas publicações americanas estão usando para definir esse perfil é "homem confiante."
Trata-se de um cidadão que consegue usar calça vermelha, investe em alfaiataria e acessórios inteligentes e é capaz de fugir com criatividade do clichê calça chino + camiseta polo, uniforme da corrente casual. Como há menos regras e mais liberdade para se vestir, o homem precisa encontrar seu estilo para se posicionar seja na guerra do trabalho ou nas estratégias de sedução.
O que os especialistas ressaltam é o papel da internet, das redes sociais e do e-commerce neste momento de maior "confiança" do homem. Ele já não concorda abobalhado diante de um vendedor que lhe entrega um enxoval pronto para o inverno ou o verão. O consumidor masculino encontra mais subsídios no mundo virtual e precisa justificar, intelectualmente ou emocionalmente, suas escolhas. Mesmo que elas sejam consideradas cafonas, algo como "sou Tufão, mas sou feliz."
A indústria captou o momento e traduziu esta busca por estilo e diferenciação em uma infinidade de cores nas semanas de moda masculina na Europa. Foi um chacoalhão ou uma forçação "Um italiano pode até usar um terno amarelo, mas o brasileiro se guia mais pelo comportamento americano. A não ser por um nicho, o homem brasileiro ainda busca a performance, ou seja, o estilo traduz uma vantagem profissional", diz Caldas.
No fundo, o homem está comprando mais porque ninguém pode ficar de fora da máquina consumista, mesmo que o discurso do consumo consciente ganhe músculos. Antigamente, podia-se herdar um terno de casimira do avô. Hoje, tudo é feito para não durar. O homem também se serve do fast fashion e tem de ajudar na lógica da aceleração do consumo. A indústria está encontrando os caminhos para abordá-lo e ele está mais suscetível ao assédio.
Talvez o brasileiro da bacaneza não organize uma fila na TopMan, como as mulheres fizeram na TopShop, na inauguração do shopping JK. Nem se rasgue no provador da Gucci masculina por uma gravata quando a loja abrir no próximo sábado. Ao mesmo tempo, não vai sair na hora do almoço e voltar com uma sacolinha para o escritório. Não pega bem. Mas no fim de semana, quando perceber que todos seus amigos também colocaram seus tênis Osklen para o "lazer", ele deve fazer algo a respeito.