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Atual contração do setor de alumínio projeta um cenário ruim para 2020
O faturamento das companhias da cadeia do alumínio pode ficar 20% abaixo de seu potencial nos próximos sete anos. De estimados US$ 40 bilhões que as empresas poderiam atingir com suas vendas, as mudanças recentes no setor tornam mais provável um cenário conservador de US$ 33 bilhões. Os números foram simulados pelos analistas da Bain & Company, no estudo intitulado "Alumínio no Brasil: Transformações nos últimos 15 anos", obtido com exclusividade pelo Valor.
"Poucos setores passaram por mudanças estruturais tão fortes nos últimos anos quanto o setor de alumínio no Brasil", dizem.
Entre essas mudanças, eles destacam a expressiva redução da capacidade de produção de alumínio primário, de 18% entre 2009 e 2013. As consultoria lembra que o país passou da 6ª para a 8ª posição no ranking global de produção. Apenas neste ano, a Alcoa anunciou um corte de 92 mil toneladas na Alumar, em São Luis (MA), onde opera em consórcio com a BHP Billiton, e a Novelis cortou 20 mil toneladas em Ouro Preto (MG).
Os analistas também levaram em conta em seus cálculos a perda de competitividade da indústria local no mercado de transformados de alumínio, que enfrenta dificuldade para recuperar o espaço ocupado pelos importados.
No geral, os analistas dizem que pode haver uma perda de 35 mil empregos diretos no setor, de potenciais 180 mil postos para 150 mil nos próximos sete anos. Para os investimentos feitos em toda a cadeia, estimam que os desembolsos ficarão 30% abaixo do que seria possível, com um valor entre US$ 10 bilhões a US$ 15 bilhões no acumulado de 2013 a 2020. O recolhimento de impostos do setor também cairia 15% em relação ao volume que poderia ser arrecadado caso a indústria estivesse melhor.
Na visão dos autores do estudo, o setor ainda pode ter novos cortes de produção nos próximos anos. "Se isso ocorrer, restarão no Brasil apenas as instalações mais modernas ou com algo percentual de energia autogerada", afirmam Marcelo Massarente, Antonio Serrano, Leticia Machado, Luciana Hara e Victor Frazão.
O número que projetam para a produção é de 1,2 milhão de toneladas de alumínio primário em um cenário sem recuperação de competitividade das empresas, 36% abaixo do volume de 1,9 milhão de toneladas que seria possível em 2020. No caso dos transformados, estimam 1,9 milhão de toneladas, 27% abaixo dos 2,5 milhões toneladas potenciais.
"Além disso, não serão feitos os grandes investimentos em laminação a quente necessários, nem adicionada capacidade para refusão de tarugos. Em um cenário mais pessimista, nem o investimento necessário para manter a capacidade de transformação instalada atualmente seria feito e, progressivamente, veríamos o suprimento local se reduzir", diz o estudo.
Com a redução da oferta local nos últimos anos e a expectativa de que possa haver alguma dificuldade de fornecimento, alguns compradores de alumínio já teriam começado a garantir seus estoques, diz a Bain & Company. Assim, o prêmio pago sobre o preço de referência do alumínio, negociado na bolsa de Londres (LME), chega a superar US$ 400 no Brasil por tonelada do metal, mais do que o dobro do prêmio de cerca de US$ 180 por tonelada até 2008.
A utilização de sucata como substituto para o metal primário não pode resolver o problema do suprimento, diz o estudo, já que o Brasil atingiu um patamar a partir do qual "é difícil crescer muito mais". As latas usadas já são quase totalmente recicladas, enquanto as sucatas de mais longo prazo ainda são resultantes de um período de estagnação da demanda. A importação é uma opção complicada por conta de restrições de exportações de diversos países, ou da dificuldade dos compradores de acesso a crédito para importar em volumes significativos.