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O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) acaba de concluir um amplo estudo para o desenvolvimento de vários pólos sucroalcooleiros no oeste da África, uma das regiões mais pobres do mundo. Pesquisadores da firma de consultoria Bain & Company e do escritório da advocacia Machado Meyer, que foram contratados para realizar o levantamento para banco estatal de fomento, percorreram o Senegal, Mali, Niger, Burkina Easo, Benin, Togo, Costa do Marfim e Guiné Bissau, ex-possessões francesas que constituíram a União Econômica e Monetária do Oeste Africano (Uemoa) em 1994, quando passaram a adotar uma moeda única, o franco CEA.
O bloco econômico africano é apoiado pela França, que lhe dá a grande vantagem econômica de manter um câmbio fixo com o euro. Mas isso não impede que a região exiba um dos mais baixos índices de desenvolvimento humano (IDH) do mundo, situação que pode piorar com o surto do vírus ebola nos países vizinhos, como Serra Leoa e Libéria. Juntos, os oito países da Uemoa reúnem um PIB de US$ 13G bilhões e têm um déficit na balança comercial de US$ 6,8 bilhões. Dos 100 milhões de habitantes, 36% apenas estão em áreas urbanizadas e o IDH médio da região é de 0,394 indicador bem inferior ao do Brasil, que é de 0,730.
O levantamento feito pelo BNDES, que contou também com a contribuição da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), levou quase um ano para ser concluído e mapeou 11 potenciais pólos agroenergéticos nos países-membros da Uemoa, que abrangeriam desde o plantio de cana até a produção de açúcar e etanol, além da instalação de usinas termelétricas, que gerariam energia a partir da queima do bagaço. A ideia é replicar o modelo brasileiro no oeste africano e que permite aliar a produção de um alimento, o açúcar, com a oferta de biocombustíveis (etanol) e a geração de energia elétrica.
De acordo com o estudo, existe na Uemoa um potencial para produção de 950 mil toneladas de açúcar, que poderiam injetar US$ 1 bilhão por ano na economia. Além disso, os pólos agroenergéticos poderiam produzir 600 mil metros cúbicos de etanol e 310 GW de energia elétrica, que trariam, respectivamente, um impacto econômico de US$ 437 milhões e US$ 38 milhões por ano. "O impacto esperado é de 1 % a 5% do PIB, sendo a maior parte decorrente da produção de açúcar", concluem os pesquisadores.
O desenvolvimento desses núcleos sucroalcooleiros demandaria um investimento total de US$ 3,2 bilhões. Os países mais beneficiados seriam o Benin e Senegal, que poderiam receber, respectivamente, investimentos de US$ 512 milhões e US$ 663 milhões. Em terceiro lugar viria o Togo, onde poderiam ser investidos US$ 425 milhões, proporcionando um crescimento do PIB de 5%, o maior impacto entre todos os oito países do bloco econômico. Outros países que também apresentam potencial são Burkina Easo, Costa do Marfim e Niger, nos quais poderiam ser investidos US$ 412 milhões, US$ 410 milhões e US$ 397 milhões, respectivamente.
"A intenção foi mostrar que essa é uma região viável da África", afirma Marcelo Alves, chefe do departamento de infraestrutura do BNDES. Segundo ele, no memorando assinado pelo governo do Brasil com a Uemoa, o banco brasileiro de fomento não se compromete a financiar os projetos. "Não temos esse compromisso", diz Alves. O papel do BNDES é o de identificar oportunidades que podem interessar às empresas brasileiras, que têm expertise no setor agroenergético, como fabricantes de bens de capital.
A produção de biocombustíveis, contudo, é criticada por aqueles que defendem que as áreas agriculturáveis deveriam ser destinadas prioritariamente à produção de alimentos, especialmente na África, onde a fome ainda é o problema mais sério. "Sabemos que existe essa crítica", responde Alves. A ideia é mostrar o contrário, que os pólos agroenergéticos podem ser uma solução.
O projeto na África originou-se ainda das visitas do ex-presidente Luiz Ignácio Lula da Silva ao continente. Segundo o diretor do BNDES, uma das preocupações do Ministério das Relações Exteriores (MRE), que procurou o banco de fomento para a realização do estudo, foi tentar mostrar que não existe essa dicotomia, entre a produção de alimentos e combustíveis, no modelo desenvolvido no Brasil em torno da indústria de cana-de-açúcar.
Os pólos agroenergéticos formam um "tripé", afirma Alves, que podem satisfazer tanto a necessidades de alimentos, permitindo que esses países substituam a importação de açúcar, como também proporcionar a oferta de combustíveis e energia, que são essenciais para o desenvolvimento industrial desses países. A energia, por exemplo, é necessária para os projetos de irrigação, nos quais poderiam ser plantados outros tipos de lavoura.
"Esses países africanos não trocariam terras destinada à produção de alimentos para produção de biocombustíveis", afirma o sócio da área de Infraestrutura do escritório Machado Meyer, Eábio Ealkenburger. Uma das inspirações para a proposta defendida pelos consultores brasileiros foi o conceito de "zonas de desenvolvimento especiais" disseminado pelo ministro da Agricultura da Nigéria, Akinwunmi Adesina, afirmam Fernando Martins, sócio da Bain & Company responsável pelo projeto e Luiza Mattos, gerente da firma de consultoria.
O ministro nigeriano, que tem doutorado pela Universidade de Purdue, nos EUA, implementou políticas para fortalecer a agricultura familiar e conquistou o respeito internacional. Seu movimento, a Aliança para uma Revolução Verde na África (AGRA, na sigla em inglês), lançada em 2007 com o objetivo de retirar milhões de agricultores da pobreza e da insegurança alimentar no continente, é apoiada pela Rockfeller Foundation e pela fundação mantida por Bill Gates.