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Fusões e aquisições entre petroleiras, como a compra da britânica BG pela anglo-holandesa Shell, por US$ 70 bilhões, anunciada na semana passada, são efeitos da atual crise do preço internacional do petróleo, de acordo com a consultoria Bain & Company. Para José de Sá, sócio da consultoria na área de petróleo, porém, as operações devem ocorrer em maior número no segmento dos fornecedores da cadeia de óleo e gás, que são em maior quantidade e possuem menor fôlego financeiro.
"Esperamos um cenário de consolidação. Devemos ver uma onda de fusões e aquisições acontecendo no setor, mais nos fornecedores do que nas empresas de petróleo. Com relação às petrolíferas, tendem a ser movimentos muito grandes, mas poucos. Nas empresas fornecedoras devemos ver bastante dinamismo em fusões e aquisições", disse o especialista ao Valor.
Segundo Sá, as prestadoras de serviços e fornecedoras da cadeia de óleo e gás são mais vulneráveis à crise do que as grandes petroleiras. Ele disse esperar um aperto maior nas negociações de contratos das petroleiras com as fornecedoras.
"Olhando o que aconteceu, por exemplo, em 2009, tivemos uma deflação nos custos de vários serviços relacionados a "upstream" [exploração e produção], desde perfuração e completação, operação etc. Com queda de preços de 5% a 20%, dependendo do setor", disse. "É um momento em que a cadeia fornecedora vai sentir bastante pressão", completou o consultor.
Sá disse que o movimento de aperto nas negociações com os fornecedores se deve a estratégia de corte de custos pelas petroleiras, diante do baixo nível de preço internacional do petróleo. "O elemento importante que as operadoras têm de trabalhar na crise é tentar cortar esses 50% de inflação no custo operacional que aconteceu nos últimos cinco anos."
O especialista contou ainda que, nesse cenário, as grandes petroleiras vão rever seu portfólio, para se concentrar apenas em ativos mais rentáveis, interrompendo os projetos marginais.
Com relação aos preços do petróleo, Sá disse que a crise teve início em meados de 2014 e deve terminar no fim deste ano. "As crises [de petróleo] em geral nas últimas décadas demoram entre seis e 18 meses. A crise que a gente está vivendo hoje se assemelha muito ao que foi a crise de 1986. A má notícia que vem dessa similaridade é que provavelmente esse cenário de crise vai durar 18 meses."
Outro ponto destacado pelo sócio da Bain & Company é com relação ao preço futuro da commodity. "Existe uma probabilidade razoável de que a saída dessa crise seja para um patamar de preço de petróleo de US$ 60 a US$ 70 [o barril] e não US$ 80 a US$ 100 [o barril]. E isso exige uma reflexão importante. Os governos têm de entender como devem lidar com esse novo cenário do petróleo", avaliou.